#1 Lendo o Mundo: Irlanda — As Viagens do Gulliver, de Jonathan Swift
Nada melhor do que começar uma viagem com o veículo certo: um livro sátiro sobre viagens! Se você nunca leu Jonathan Swift, talvez não conheça seu humor para falar das coisas do seu tempo e fazer as devidas críticas, já que, desde daquela época, as coisa já andavam meio hipócritas.
Escrito em 1926, “As Viagens de Gulliver” é uma sátira dos livros de viagens de sua época. O livro é recheado com detalhes sobre as desventuras que Gulliver sofre durante as 4 partes do livro. Em cada uma delas, aprende o idioma nativo, familiariza com os costumes e leis, faz amizades com reis, chefes de estado e outras autoridades, sofre ameaças de assassinato, salva reinos, vira brinquedo de gigantes, sofre um naufrágio, vira animal doméstico de cavalos, é roubado, deduz coordenada de ilhas sem nenhuma ferramenta e descobre uma ilha que flutua.
Com um enredo às vezes lento, outras agitado, Swift escreveu uma espécie de diário de bordo do capitão que parecia entediado com sua vida boa e família. Durante a história, há várias sátiras em relação a outros livro do sub-gênero de aventura e a outras obras literárias, como “Utopia” de Thomas More e “A República” de Platão.
Para quem conhece o livro, mas nunca leu sobre o autor, aqui vai alguns fatos:
- Swift nasceu na Irlanda e era filho de pais ingleses, o que pode explicar os odes sobre sua amada Inglaterra durante os capítulos. (Especulação)
- Tinha problemas com a família, sendo “cedido” pela mãe e tendo que viver de favores com outros familiares.
- Tentou escrever poesia, porém descobriu-se na sátira.
Um detalhe interessante sobre o livro é que é uma leitura absolutamente universal, o que fez com que fosse um livro popular desde a primeira publicação, em 1726.
Detalhes presentes na obra:
- Sátira Clássica: O livro apresenta de forma debochada problemas mundias (como corrupção) e específicos (pertinentes da Inglaterra e Irlanda na época). Mesmo sendo considerada como “clássica”, é possível ver que muitos problemas apontados ainda ocorrendo.
- Mudança de Perspectiva: Apresentada de forma literal no enredo, com o personagem ora gigante, poderoso, um monstro para a sociedade, ora pequeno, insignificante, frágil. Por fim, é visto como o ser selvagem, propagador da mentira e da maldade.
Indicação:
Para você que chegou até aqui e gostou do que o livro promete, manda a ver! O livro pode parecer difícil em alguns pontos(depende a edição e da tradução), mas é um clássico: dispensa maiores exaltações para te motivar a ler.
Mas se apenas este fato não te convencer, aqui vão 5 motivos e 3 indicações relacionados a obra.
- Para quem olhou o filme “As Viagens de Gulliver”, dirigido por Rob Letterman, aviso: o filme realmente só traz metade do livro. O que se perde muito, porque tem mais 2 partes e outros detalhes que não são comentados, como a ilha flutuante, os necromantes e a ilha com os yahoos.
- O livro faz algumas citações sobre política que na atual conjuntura nossa (estou falando de Brasil) é um tapa na cara e nos faz repensar coisas que estávamos tomando como verdade sem bases fortes. Colaborando com esta experiência, quero lembrar que este livro é um pouquinho velhinho, mas consegue ser atemporal por este e outros detalhes.
- É muito interessante as críticas feitas sobre a humanidade na quarta parte. Quando Swift faz a mudança de perspectiva, tirando de nós esse orgulho de ser “animais racionais”, fez uma análise dura sobre várias corrupções e maldades que estão presente em nós — Minha opinião, claro.
- Questão histórica. Na edição que li, havia várias notas sobre fatos mencionados com costumes e fatos históricos da época que o autor nos deu um vislumbre e sua opinião a respeito.
- É um livro que referencia outros livros e pessoas de grande peso histórico, mesmo satirizando em alguns momentos. Faz questionamento e apresenta ideias bacanas para a época de escrita, como uma justiça voltada a bonificar quem é correto e honesto. Outro ponto brilhante do livro são as críticas dirigidas a ciência e a academia na parte 3. Acho que este ponto é o menos comentado por ser o mais real em toda narrativa. E logo, a parte mais vergonhosa.
Bônus: Está na lista dos 1.001 livros para ler antes de morrer!
Por fim, materiais relacionados com a obra que valem a pena ser consumidos:
- Vida e Obra de Jonanthan Swift- Fascículo impresso que acompanha o livro “As Viagens de Gulliver” da editora Nova Cultural. Como não tem esse material online, deixo este link que já ajuda muito.
- Este vídeo do programa Literatura Fundamental, onde o livro foi apresentado com a contribuição da pesquisadora Mariana Teixeira Marques, professora da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Unifesp, a Universidade Federal de São Paulo. Link aqui
- Audiolivro do Gulliver, feito pelo projeto Livro Livre, que pode ser acessado por este link.
Minha classificação pessoal (sem nenhuma base crítica):
Ah, quase me esqueci. Tem uma releitura em história em quadrinhos desenhada pelo Milo Manara (eu acho lindas as ilustrações, embora a sexualização da mulher. Foda, mas lindo) que eu curti muito e quero indicar!
Boa leitura!